Às vezes podemos nos perguntar como funciona o trabalho de um pesquisador, ou mesmo como funciona uma pesquisa científica, e no final das contas, como este trabalho pode chegar até à sociedade? Se analisarmos com cautela, iremos constatar que a maior parte do precioso tempo de um profissional que trabalha com pesquisa está voltado às publicações, ou seja, à divulgação dos seus resultados em meio à comunidade acadêmica ou ao tratamento de dados oriundos de suas pesquisas para produzir os artigos, livros, patentes, ou outras publicações importantes, o que só por isso já mostra o quão importante é publicar.
Mas o que publicar, onde publicar e por que, qual a diferença entre a revista x e a y, são questões bastante pertinentes. As respostas para estas e outras perguntas daremos a seguir.
Onde encontrar as melhores informações
É um consenso que os conhecimentos encontrados em um livro técnico (ou seja, aquele que usamos para estudar conhecimentos acadêmicos, como química orgânica, ciência dos materiais, cálculo, termodinâmica, mecânica quântica, etc) estão no mínimo 5 anos em defasagem ao conhecimento atual, e com a velocidade das transformações do conhecimento que vivemos hoje, fará com que cada vez mais esse tempo seja estendido, o que mostra que a primeira coisa que devemos aprender é onde achar essa bendita informação atualizada. Em suma, o que de mais importante está acontecendo na ciência é publicado em revistas de alto impacto e cada área tem a sua revista mais importante. Por exemplo, na área de ciências naturais as revistas mais importantes (em ordem decrescente) são: Nature e suas subsidiárias [Chemistry, Materials, Nanotechnology, Biotechnology, Science, Nano Letters, Journal of American Chemical Society (famoso JACS), Advanced Materials, Langmuir], que são publicações que um dia, podem se tornar um prêmio Nobel. O nível de cada revista é medido pelo seu fator de impacto, assim como tudo no meio científico tem um fator de impacto. Em suma esse fator de impacto é o quanto as pessoas se interessaram pela publicação, e assim acabam citando a mesma em um outro artigo ou trabalho científico. Para se ter uma idéia, o artigo que valeu à dupla Watson e Crick o prêmio Nobel pelo trabalho de elucidação da estrutura tridimensional do DNA (“Molecular structure of nucleic acids: a structure for deoxyribose nucleic acid”), publicado na Nature em 1953, teve mais de 4 mil citações.
Esse número de citações é que levará à uma revista ser mais ou menos conceituada. No Brasil na área de Química temos as revistas Química Nova, Brazilian Journal of Chemical Society (BJCS) e Eclética Química, como as revistas mais importantes do setor, e que tem fator de impacto (FI) em torno de 1 ou 2, ou seja, cada artigo teve em torno de uma ou duas citações em média. Para fazer um comparativo com as revistas citadas anteriormente, a Langmuir tem um FI de 4,5, o JACS próximo de 9, e a família Nature é praticamente toda acima de 20! Com isso, esqueça revistas como Galileu, Superinteressante, Scientific American, etc, que são apenas para curiosidades, não para embasamento científico
Com isso é importante achar boas informações, e essas são encontradas em revistas científicas, com a observação de que um artigo ao ser publicado em uma revista com baixo fator de impacto, não quer dizer que o trabalho não seja um blockbuster [termo usado para a pesquisa de primeira linha, ou de “big science”, que é a pesquisa em empreendimentos como o LHC (Large Hadron Collider) na Suíça] e são vários exemplos de pesquisas importantíssimas que foram publicadas em revistas com baixo FI.
Um pesquisador também tem um fator de impacto, que é o fator H, que funciona mais ou menos como o das revistas, e que é analisado quando o sujeito vai pedir uma bolsa de pesquisa ou um financiamento junto à uma agência de fomento (CAPES, FAPESP, CNPQ, FINEP, etc), esse fator leva em conta o número de publicações, o impacto das publicações (1 publicação numa Nature pode equivaler a várias publicações numa revista de baixo FI), número de alunos orientados, patentes, livros, e produções diversas. Por isso é tão importante publicar e produzir conhecimento, pois toda comunidade acadêmica acaba ganhando, ao trazer maiores investimentos à universidade e fomento à P&D.
As ferramentas disponíveis
Para encontrar essas publicações é preciso garimpar o enorme banco de dados que é a nossa querida World Wide Web. Está tudo lá, mas achar o que se quer demanda tempo e algumas dicas serão muito úteis.
Em primeiro lugar são poucos os trabalhos publicados em língua que não seja a inglesa, a mundo acadêmico é discutido em inglês, pré-requisito básico. Em segundo lugar existem alguns sites e sistemas especialmente preparados para encontrar trabalhos acadêmicos, como o Web of Science, Sci Finder, Google Acadêmico (que engloba tudo numa coisa só) entre outros (alguns deles citados pela Doutoranda Denise Bonemer, em seu artigo para este blog).
Cada área também pode possuir seu sistema mais importante, por exemplo, na área de biociências o site mais utilizado é o NCBI, que engloba tudo o que é “bio”, como o PubMed, mais específico para as ciências da saúde, e assim segue.
Como a idéia é não fazer um artigo muito extenso, seguem as principais dicas a cerca do Google Acadêmico, que tem como principal vantagem, sobre os outros sites de pesquisa, a união de todos em um só.
Pesquisa rápida e precisa!
A simples digitação de qualquer termo no campo de pesquisa abrirá esta página, onde é possível encontrar diversas informações sobre a publicação, como: qual a revista que publicou o trabalho, qual o número de citações, autores, data, editora, tipo do arquivo (quando é free), publicações relacionadas, entre outras. Com isso pode-se conhecer a publicação antes de abrí-la.
Através do apoio ao usuário acaba não tendo nenhum segredo restringir a busca para encontrar informações confiáveis.
Restringindo a busca através da pesquisa avançada, define-se autor, revista, ou outros termos desejados. Existem outras formas de limitar a busca, como por exemplo, o tipo de arquivo colocando um “#” (“#pdf” para arquivos pdf, por exemplo), antes dos termos de pesquisa, ou colocando os termos entre aspas como em: “prussian blue”, por exemplo, para encontrar justamente o que se deseja.
Vale lembrar que os aplicativos de busca do Google funcionam através da importância do site ou do número de acessos, por isso é interessante restringir a busca para não perder tempo com inutilidades.
Autor: Ígor Donini é mestrando em Biotecnologia na área de biopolímeros com aplicações tecnológicas (especialmente a Celulose Bacteriana); é formado em Biotecnologia pela Universidade de Ribeirão Preto, Técnico em Agropecuária pela Unesp de Jaboticabal e graduando em Engenharia Física pela Universidade Federal de São Carlos.